Em tempos de manifestações que sacodem o Brasil de
norte a sul, gostaria de escrever algumas poucas linhas a respeito do que julgo
ser a questão mais importante, embora não tenha visto sequer uma faixa nas ruas
ou uma linha nos jornais, revistas e sites que cobriram o evento, que tratasse
disso que eu julgo tão relevante.
Tenho que começar dizendo que também faço parte da
grande maioria dos brasileiros que estão indignados com a corrupção. Ver o
nosso país ser alvo de quadrilhas especializadas em espoliar o que é do povo
brasileiro nunca é bom, e devemos lutar contra isso. Mas acho que devemos
ampliar o rol das providências necessárias. Não podemos deixar a
responsabilidade somente nas mãos da Polícia, do Ministério Público ou da Justiça,
embora eles estejam fazendo muito bem o que lhes toca. Mas eles não podem tudo.
Da mesma forma, sacar um presidente da república do
trono pode até ser um remédio que acalme as massas, e a curto prazo pode até dar algum resultado. O problema é que sabemos que nosso país é carente de líderes
capazes de catalisar um movimento que nos distancie daquilo que temos visto
todos os dias na tela de nossas TVs ou nas páginas de nossos periódicos. E não podemos
desgastar tanto as nossas instituições para trocarmos seis por meia-dúzia.
Não estou aqui a defender os que estão e os que
aspiram ao poder. E apesar de não nutrir nenhum sentimento especial por nenhum
grupo político, entendo a lógica sob a qual todos eles funcionam. E é
exatamente aquela mesma lógica que dita o comportamento de nossa sociedade e
molda a maneira como enxergamos o mundo. O que faz com que o corrupto aceite
dinheiro para votar a favor de um projeto de lei, por exemplo, é exatamente o
que faz com que cometamos as nossas pequenas desonestidades, em pensamentos,
palavras ou ações. E é exatamente aí o ponto onde eu gostaria de chegar.
A única maneira de obtermos uma mudança sustentável,
tanto em nosso ambiente político quanto em nossas relações com os outros, é nos
abrirmos para novas dimensões de comportamento que, apesar de possíveis e
completamente acessíveis, nos parecem mais adequadas a mundos de fantasia.
Neste planeta de sofrimentos – diriam alguns – a única lei que funciona é a do
chicote. É o Deus nos acuda do cada um por si.
E quais seriam essas novas dimensões de
comportamento? Em primeiro lugar, é importante que percebamos o total
descontrole que temos sobre nossas vidas. Nossa mente, conhecida como aquele
lugar onde surgem nossos pensamentos, é completamente indomável. Não temos
qualquer controle sobre ela, apesar de acharmos que aquela voz dentro de nossa cabeça
somos nós. Nada mais equivocado!
O mesmo ocorre com os nossos sentimentos. Do lugar
de onde surgem, eles percorrem todo o seu ciclo sem qualquer interferência
ativa de nossa parte. Se são sentimentos positivos, nos alegramos; se
negativos, nos entristecemos. E é só. Somos completamente dependentes dos
humores de nosso corpo emocional.
Poderia citar diversos outros exemplos da inconsciência
que nos caracteriza. Nem todos são negativos, como por exemplo o descontrole
sobre nossas funções fisiológicas. Ainda bem que a natureza não nos legou tal
incumbência. Seria um desastre!
Bem, e o que isso tem a ver com as manifestações de
ontem? Absolutamente tudo. A causa da nossa revolta, que são os constantes escândalos
de corrupção, somente existem em razão de nossa inconsciência diante do mundo. A
nossa vida consiste em eternamente reagir a estímulos de nossa mente, que
jamais está satisfeita. Sempre quer conquistar mais e mais. E considerando que
o dinheiro se tornou o fator que mede a nossa importância, nada mais natural
que ele seja perseguido a todo custo.
Faltam a todos, sociedade indignada, corruptos e
corruptores, valores que nos façam perceber que a felicidade do outro é a nossa
própria, assim como suas tragédias. Falta-nos compreender que todas as nossas carências
e os nossos medos, que resultam em comportamentos inconscientes em busca de defesa
- inclusive contra o medo da escassez, causa principal da corrupção - somente são
armadilhas da nossa mente, dependente que é dessas sensações inúteis e falsas.
Não sei se vocês conhecem Eckhart Tolle, uma pessoa
que consegue explicar de maneira bastante clara as artimanhas da mente. Ele está
aí do lado, nos links recomendados do blog. Em seu livro “O Poder do Agora”,
Tolle descreve como é possível transcender os nossos joguinhos mentais e alcançar
a verdadeira felicidade. Consiste em permanecer no momento presente, sem
qualquer memória do passado ou expectativa quanto ao futuro. Somente aí podemos
acessar o “presente” que o universo nos dá a cada momento, eternamente. Sugiro
a leitura.
As faixas que eu gostaria de ver nas ruas das
grandes capitais seriam algo como: “Expansão da consciência já”, “Meditação nas
escolas”, “Silêncio na mente”, e coisas do gênero. Como já disse antes, a reação
social frente à desonestidade de nossos representantes, apesar de ser necessária
e urgente, não atacará a raiz do problema, mas somente as conseqüências. Temos
que ir mais fundo em nós mesmos. Quando nos transformamos, cambiamos toda a
realidade.
A simples mudança de personagens, sem a alteração do
palco, enredo, cenografia e iluminação, fará com que a história se repita, e
mais uma vez permaneceremos na platéia, torcendo para um final diferente que não
chegará, ao menos que tenhamos mudado a nós mesmos.
Essa é a única e inevitável saída.
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