domingo, 30 de agosto de 2015

Olhai os lírios do campo




"Olhai como crescem os lírios do campo. Eles não fiam nem tecem.
 Eu, contudo, vos asseguro que nem Salomão, em todo o esplendor 
de sua glória, vestiu-se como um deles."

Quase todos conhecem a passagem acima. Para quem não conhece, essas palavras estão na Bíblia. O próprio Jesus Cristo as proferiu. Mas a que estava querendo se referir? Se eu pudesse resumir tudo o que disse em uma palavra, diria: confiança.

Na verdade, confiamos em pouca coisa nos dias de hoje. Sempre andamos desconfiados dos outros, das situações, das mentiras, das tentativas de nos passarem a perna. E daí nos fechamos contra tudo e todos.

Em que confiamos? Nos amigos, parentes, marido, esposa, instituições, valores? A resposta é que até podemos ter algum grau de confiança em qualquer um deles, mas só há uma coisa em que depositamos nossa confiança absoluta: no dinheiro. Cremos que ele vai nos proteger e garantir nossas necessidades. O deus dinheiro é o único capaz de transformar nossos sonhos em realidade, nossa tristeza em alegria. Diante disso, merece culto.

Vivemos em um mundo regido por diversas leis. Uma delas é a lei do pagamento. De acordo com essa lei, as coisas por aqui são conquistadas através de sacrifício. Todos temos que pagar algo para obter o que desejamos. E como o dinheiro é aquilo que compra aparentemente tudo, todos os nossos esforços são no sentido de obtê-lo.

Nada contra o dinheiro, muito pelo contrário. Ele é uma dimensão que, sem bem utilizada, pode proporcionar tanto o conforto nesta vida quanto a tranqüilidade para trilharmos a aventura do autoconhecimento. Para os nossos padrões mentais, é mais difícil que uma pessoa que não tem garantido seu próximo prato de comida tenha condições de sentar-se e meditar. Em outras culturas isso é absolutamente normal. Aqui, no “far west”, é improvável.

No início deste texto eu falei sobre confiança. Essa palavra vem do latim “con fides”, que significa “com fé”. Significa abrir mão do controle, transferindo-o para alguém, ou algo, que se torna responsável pelos resultados. É aventurar-se na dimensão da entrega, do desconhecido, do incontrolável. E essa é uma experiência que, a meu ver, é a mais desafiadora e a mais gratificante. Até onde o controle te levou? O que você colheu querendo que as coisas tivessem sido sempre do seu jeito?

Para se aprofundar neste entendimento, eu te proponho uma reflexão. É a respeito de tudo o que ocorreu em sua vida até hoje. Serão todos esses acontecimentos, mais ou menos relevantes, obras do simples acaso? Nossa vida é o resultado de eventos caóticos, descontrolados, sem qualquer ligação uns com os outros? Ou ela é o conjunto de experiências pré-determinadas, visando o nosso aperfeiçoamento?

Essa é a lição que Jesus quer nos ensinar. Ele cita os lírios do campo, que não necessitam fazer qualquer esforço e a existência os presenteia com uma beleza maior do que a de Salomão. Com isso, nos incita a confiar mais naquilo que a vida nos apresenta. É se perguntar, a todo o momento, qual é a lição encoberta sob os acontecimentos da nossa vida? É agradecer os presentes que ela nos dá, ainda que embalados em dor ou sofrimento.

Em resumo, é conseguir enxergar, principalmente nas questões mais desafiadoras, o presente que a vida nos oferece. Permanentemente, estamos sendo agraciados com o ensinamento necessário para a nossa felicidade. Mas como temos o hábito de avaliar o sofrimento como um simples pagamento por algo que fizemos de errado, enxergamos somente uma das metades da moeda. Na outra está aquilo que tem que ser compreendido.

Procure se abrir para a dimensão do incerto em sua vida. Embarque nessa que será a maior aventura de todas. Confie na existência e ela proverá aquilo que você necessita, não simplesmente aquilo que você deseja.

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