Estive durante todo o dia de hoje em um workshop
com Sri Prem Baba, que é um cara muito legal que tem falado sobre
relacionamentos, meio ambiente e diversas outras coisas que valem uma reflexão.
E como hoje é o Dia do Solteiro, aproveito o gancho para falar sobre essa condição,
escolhida ou imposta, que tem trazido muitas frustrações para homens e mulheres
de todo o mundo.
Em primeiro lugar, é certo que todo o ser humano,
com raríssimas exceções, busca se relacionar com outro de sua espécie.
Vivemos em um plano de existência onde o entendimento de muitos de nossos
dilemas somente é possível através da experiência do relacionamento. Utilizamos,
na maioria das vezes, o outro como um espelho de nós mesmos, e assim
conseguimos – ou pelo menos essa é a idéia – nos enxergar um pouco mais.
Na verdade, o ser solteiro, cuja condição é
celebrada no dia de hoje, na maioria das vezes é um estado profundo de
tristeza. Quase nunca a pessoa escolhe não se relacionar. Ao contrário, o que
gera isso é a incapacidade de compartilhar, com o outro, aspectos de sua vida
ou de sua personalidade que lhe parecem vergonhosos, indignos. A intimidade somente
vai até o sexo descompromissado. Só é aberta a primeira página do livro da vida
para a outra pessoa. Nada mais é permitido.
Relacionamento significa ser espontâneo,
verdadeiro, natural. É se mostrar com todas as suas fraquezas e virtudes. É aceitar
os seus defeitos e os do outro. É ser vulnerável e aceitar a vulnerabilidade da
outra pessoa.
Ocorre que vivemos em uma sociedade em que não há
espaço para a fraqueza, a indecisão ou a vulnerabilidade. Desde cedo somos
programados para sermos perfeitos, decididos, fortes, independentes e invulneráveis.
Aprendemos que a única coisa importante é aquela que podemos conquistar para nós
mesmos. Para que o outro? O outro é o inimigo. É aquele que precisa ser vencido
para que eu mesmo possa conquistar o sucesso – seja lá o que isso queira dizer.
E passamos a lutar contra tudo e contra todos para
termos razão sempre. E a vida se torna um meio para provarmos que estamos
certos. Mas essa luta somente é possível na medida em que posso fingir ser
perfeito, implacável, resoluto. Como fazer isso com um namorado ou um marido,
ou com uma esposa ou namorada? Como manter essa máscara de invencível diante da
pessoa que conhece as suas fraquezas?
Então, nessa loucura de provarmos que somos quem não
somos, não há espaço para a verdade, a confiança ou a cumplicidade. Se tudo foi
feito para ser conquistado por mim, não faz sentido ter alguém com quem
compartilhar. No nível subconsciente, entretanto, tais “escolhas” geram uma série
de frustrações, pois a necessidade de relacionar-se não desaparece com atitudes
mentais vazias de significado verdadeiro.
Quase sempre, a dificuldade de se
relacionar com homens guarda relação com problemas gerados no relacionamento
com o pai. Se o problema são os relacionamentos com as mulheres, a questão a ser
tratada é com a mãe. Em grande parte das vezes, vemos uma nítida reprodução, no
relacionamento amoroso, daquilo que não deu certo na vida da criança. Trata-se de
uma tentativa de obter sucesso naquilo que foi mal sucedido no passado. É algo
como: “dessa vez eu acerto”, "dessa vez serei amado".
Tente observar o que falta para que você consiga se
relacionar. O que, no seu sistema, está bloqueado para a intimidade, para a
verdade, para o amor? Olhe nos olhos de seu pai e de sua mãe, ainda que eles já
tenham morrido, e veja se você consegue agradecer, o mais completamente possível,
o importante papel que eles tiveram em sua vida.
E reflita sobre o que te fez sofrer até o dia de hoje. Repare que, na maioria das vezes, isso acontece quando
geramos desunião, interna ou com os outros.
Está na hora de você se permitir abrir a página 02
do livro da sua vida, com coragem para assumir seus defeitos e fraquezas.
Somente aí é que vai perceber a riqueza de poder ser quem é, sem máscaras ou
capas, que somente servem para protegê-lo de você mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário