quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Por que nos corrompemos?




Em tempos de Operação Lava a Jato, acredito que é hora de refletirmos sobre a corrupção. Não só aquela praticada por governantes ou políticos, mas a corrupção que vemos a todo o momento nas ruas, em casa, e mesmo em nossas atitudes. Creio que mais do que criar instrumentos sociais e institucionais para o combate à corrupção, devemos entender as causas que nos levam a corromper.

A palavra vem do grego corrumpere, que significa “quebrar, partir, arrebentar”. Esse significado explica os efeitos gerados pela corrupção: a destruição, não somente das chances das outras pessoas, prejudicadas por aquele ato, mas também da pessoa do corrupto, que continuamente manifesta um comportamento que é internamente auto-destrutivo.

Por que nos corrompemos? A resposta não é simples, mas alguns fatores são facilmente identificáveis. Em primeiro lugar, porque temos medo da escassez e acreditamos que precisamos acumular riquezas. Neste caso, o fim justifica os meios. E o mais interessante é que não importa a condição social ou econômica da pessoa, pois o medo de ficar pobre existe até nos que já têm mais do que o suficiente para toda uma vida de confortos. Isso fica óbvio quando vemos a prisão de um milionário acusado de corrupção. A sua situação externa pode mudar, mas internamente ele continua com os mesmos medos.

O individualismo é um segundo fator que explica a corrupção. Para uma sociedade individualista como a nossa, o bem comum tem pouco valor, ao contrário da propriedade privada. Esta sim é valorizada e perseguida por todos, e, mais uma vez, vale tudo para se tornar proprietário de qualquer coisa, desde um imóvel, o carro do ano ou um lugar na fila. A Lei de Gérson explica muito bem o sentimento que muitos de nós temos quando nos deparamos com uma situação em que temos que sopesar entre os nossos interesses e os da sociedade.

Outro fator é a sensação de que, se todos estão correndo atrás do seu pedaço da torta, utilizando-se de todos os meios para obtê-la, se eu não fizer o mesmo fico para trás. Esse comportamento foi brilhantemente traduzido por Stanislaw Ponte Preta, na famosa frase “ou restaura-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!”. Enquanto a moralidade não é restaurada - pensam alguns, é lícito aproveitar qualquer chance para obter seu quinhão. Isso é uma das principais causas da geração de um fenômeno conhecido como “sociedade de desconfiança”, onde ninguém confia em ninguém. Daí o outro se torna o inimigo e, como tal, pode ser espoliado.

E por que isso ocorre? Por que temos medo da escassez, somos individualistas e não buscamos questionar a realidade das coisas que aí estão? A resposta desta vez é simples: porque fomos programados para viver uma vida de competição, desde que nascemos. A cultura do “looser”, tão própria do povo norte-americano, também está profundamente arraigada em nossas famílias e em nossas instituições. Basta observar nosso modelo educacional para entender as raízes dessa corrida louca por resultados, e por dinheiro.

Desde cedo, somos alertados por nossos pais (e nossos filhos, por sua vez, passam o mesmo conosco) que as oportunidades para se ter uma boa vida são limitadas. Uma minoria consegue chegar lá, enquanto a grande maioria de perdedores fica pelo caminho, em empregos de menor salário, em bairros de menor prestígio. E para obter sucesso, precisamos vencer essa imensa massa de pessoas, também ansiosas por conquistar seu lugar ao sol. Salve-se quem puder! E como essa é a única realidade que conhecemos, não nos abrimos para refletir se existe outra forma possível de organização da sociedade.

Já escrevi aqui sobre Ter sucesso ou ser feliz, e esse tema, que foi um dos mais acessados neste jovem blog, parece permear também a discussão de hoje. Entre o sucesso financeiro advindo da corrupção e a felicidade, opta-se pelo primeiro, em detrimento da felicidade dificilmente encontrada, em razão do sentimento de culpa e vergonha que, conscientes ou não, os corruptos carregam.

Devemos trabalhar para que a nossa sociedade mude a partir do câmbio de nossos próprios valores. Quem nos disse que o PIB mundial e o de nosso país precisa crescer ano após ano? Onde isso vai parar? A cada ponto percentual de crescimento, mais de nossos escassos recursos naturais são consumidos. A cada reestruturação organizacional das empresas, em direção ao enxugamento de custos, milhares de postos de trabalho desaparecem. E para quê? Para atingirmos metas que trazem sucesso a alguns e infelicidade a todos.


Uma sociedade feliz necessariamente tem que ser baseada nos valores do amor, da amizade, da fraternidade e da tolerância. Neste prisma, os corruptos e os corruptores são somente espelhos de uma humanidade a quem tais valores são vistos como românticos, utópicos ou extravagantes. Nada mais errado. A felicidade, objetivo último de todos nós, somente poderá ser encontrada se ela for posta à frente dessa frenética busca pelo sucesso que, nos últimos milênios, não foi capaz de solucionar os nossos grandes e eternos dramas.


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