quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Varanasi

Sabe aquela sensação de desamparo, quando a única coisa que você pode fazer é confiar em um desconhecido, que te leva por ruelas e becos sujos e mal cheirosos? Eu também não conhecia a sensação, até chegar a Varanasi.

Descemos do trem e logo fomos abordados por um motorista de tuc tuc, prometendo nos levar ao nosso hotel, ou melhor, guest house, por 150 Rúpias. Ao andarmos uns 200 metros, porém, parou e disse que seria melhor que ficássemos em outra área, mais ampla e apropriada.

Como já havia lido na internet muitos casos em que pessoas são desviadas de seu destino original em razão das comissões pagas pelos hotéis aos motoristas, insisti que queríamos ir para o hotel já reservado. O motorista então explicou que somente poderia seguir até determinado ponto e, a partir dali teríamos que continuar a pé. Ao chegarmos ali, contratamos um rickshaw para seguir carregando a bagagem, já que a proibição era somente relativa ao trânsito de tuc tucs.

E chegou um momento em que tivemos que continuar a pé mesmo. Tiramos as bagagens e logo um homem se ofereceu para nos levar à Shiva Guesthouse, nossas acomodações pelos próximos 4 dias.
E foi aí que ocorreu o que relatei no início do post. Começamos a nos embrenhar por ruelas e becos claustrofóbicos, por onde passavam, em princípio, vacas, motos e pessoas. Em determinado momento, nem isso, foi quando eu temi pela nossa segurança, pois éramos alvos fáceis, sem conhecer nada na cidade.


Mas um vez mais fui traído por meu jeito ocidental de ver as coisas. Passados uns 5 minutos, estávamos dentro do hostel. Agradeci, dei uma gorjeta ao nosso guia e fomos fazer o check-in.
Neste ponto,  valem alguns comentários sobre o check-in nos hotéis da Índia. Em todos os que estivemos até agora, tivemos que deixar os passaportes e pegá-los após algumas horas. Em Allahabad, por exemplo, o carinha da recepção disse para pegarmos no dia seguinte, o que não concordei. E não adianta levar cópia do passaporte.

Você vai ter que confiar que não vão sumir com ele. É meio tenso mas funciona assim.
Saímos então para jantar, e fomos direto ao Restaurante Ganga Fuji, super recomendado na internet. De fato a comida é boa e a música indiana ao vivo é agradável. O proprietário fez questão de nos atender e preparou os pratos do jeito que queríamos (talvez pelo fato de sermos, naquele momento, os únicos clientes). O preço, todavia, não foi dos melhores, pelos padrões indianos e, ainda mais, comparando com os preços de Varanasi. Só para que você tenha uma ideia, uma refeição no restaurante do hostel, que serve pratos honestíssimos, nos custou cerca de 250 Rúpias. No Ganga Fuji nos custou o triplo disso. Mas valeu a experiência.

No dia seguinte fomos fazer um reconhecimento dos ghats, que são as escadas que dão acesso à Ganga, como aqui é chamado o Rio Ganges. São muitas e mais ou menos frequentadas de acordo com a sua posição. Deparamo-nos com 2 ghats onde são feitas as cremações dos mortos, que ocorrem com uma frequência impressionante. No maior deles, contei 6 corpos cremando simultaneamente.
Percorremos todos os ghats sob um sol escaldante e decidimos continuar até a ponte sobre a Ganga. Ao atravessá-la, notamos que havia um grande templo dedicado a Shiva ao lado da ponte. Fomos até lá,  onde fomos muito bem recebidos. Apesar de termos chegado antes do horário de abertura, fizeram questão de nos mostrar as instalações.

Retornamos pelo mesmo local e chegamos ao hostel em tempo de tomarmos um banho e seguirmos para a cerimônia diária em homenagem à Ganga, que ocorre em um ghat bem pertinho de nós. O evento é bem bonito, mas tá na cara que é "pra turista ver". Mas valeu. Recomendo.
No dia seguinte fomos a Sarnath, conhecida por seus templos budistas e pelo fato de ser considerada o local onde Buda fez sua primeira preleção. E gostamos bastante. Há um templo jainista bem bacana, onde recebemos uma aula sobre a religião, pouco conhecida no Brasil, mas de princípios éticos muito interessantes.

Depois, fomos a um templo budista, a uma stupa enorme e a uma imagem de Buda de quase 30 metros de altura. Pouco mais de duas horas depois, retornamos para Varanasi.
Dizem que algumas coisas são inevitáveis na Índia. Uma delas é um desarranjo intestinal, ao qual eu esperava passar ileso. Ledo engano. Não sei bem o que foi, mas a minha noite foi de rei: toda sentado no trono. Torcer pra que seja uma intoxicação alimentar simples.
Amanhã partimos de avião para Kathmandu.  See you!











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