Todos nós passamos por situações nas quais sentimos medo.
Algumas experiências causam mais medo que outras e afetam diferentemente as
pessoas. Há, inclusive, extremos desse fenômeno que são geralmente rotulados
como “síndrome do pânico”, que faz, muitas vezes, que a pessoa não tenha
coragem sequer para sair de casa.
Mas o que é o medo?
Bem, como qualquer outro sentimento, o medo não existe por
si só. Seus reflexos, entretanto, são sentidos em razão de duas dimensões distintas,
uma interna e uma externa à pessoa portadora do sentimento. Para que o medo
ocorra, é necessário que haja uma fricção entre essas duas dimensões, sobre as
quais vou falar um pouco adiante.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a maioria de
nós, humanos, passa toda a vida reagindo a estímulos externos e internos. Geralmente
tais reações são ocasionadas por pensamentos, sentimentos e sensações. Cada um
desses fenômenos desencadeia uma série de reações que podem ocorrer em nossa
mente (corpo mental), no nosso coração (corpo emocional) ou no nosso corpo
físico.
Os pensamentos, entendidos como aquele fluxo interminável de
palavras que povoam aquilo que chamamos de mente, exercem um poder enorme em
nossas vidas. Esse certamente é o assunto que mais trato neste blog, isto é, a
completa subjugação do homem pela mente. E o mais curioso é que nos acostumamos
muito rapidamente com esse fenômeno. Somente há alguns milênios é que o ser humano
começou a ouvir essa voz interna. Inicialmente, imaginou que era a voz de Deus
na sua cabeça, lhe dando ordens. Então, se um pensamento de raiva surgia,
dirigido a outra pessoa, era Deus mandando matá-la. E ele ia lá e cumpria a “ordem”.
Ela deixou de ser chamada de Deus, mas continua no comando, ditando as ordens.
O fato é que reagimos à maioria dos estímulos externos a
partir de padrões de pensamento. Na verdade, temos pouca autonomia em relação à
maneira como reagimos às coisas do mundo. Tudo é planejado e executado pela
mente, através de nossos padrões mentais.
As sensações, por sua vez, são aqueles estímulos com
reflexos mais físicos. Por um lado, abrangem as percepções que temos quanto à
realidade física externa, como o calor, o frio, o vento, a chuva. Por outro,
podem ser sensações provocadas por estímulos externos, como o prazer ou a dor.
Os sentimentos fazem parte de uma dimensão mais elaborada de
vibrações, que não são possíveis de serem processados pela mente ou pelo nosso
corpo físico, já que são formados por uma energia diferente daquela entendida
por nosso corpo mental ou material.
O medo pode ser classificado como um sentimento, e pode ser
provocado através de diversos estímulos.
Voltando ao que havia me referido antes, o medo não tem
existência própria, e é o resultado da ocorrência de dois fatores. O externo é
relativo à possibilidade de ocorrência de um evento. O interno, diz respeito a
como a pessoa enxerga a si mesmo e o seu futuro.
Quanto à possibilidade da ocorrência de um evento, é certo
que o medo só pode existir se o evento que o deflagra for minimamente previsível. Se não houver possibilidade alguma de acontecer, não há medo. Por
exemplo, ninguém tem medo de não ser a pessoa mais rica ou a mais bonita do
mundo, simplesmente porque sabemos que isso não vai ocorrer. O máximo que
ocorre é o medo de não ser mais rico ou mais bonito que as pessoas que nos são
próximas, porque aí há uma possibilidade. E o contrário também é verdadeiro. Se
não há dúvida de que algo vai acontecer, o medo também não existe. Por exemplo,
ninguém tem medo que a lei da gravidade deixe de existir, porque ela sempre
estará aí.
O medo, portanto, depende da imprevisibilidade da ocorrência
de determinado evento. Tal fator é potencializado pela mente da pessoa, com
interferência posterior do corpo emocional, fazendo com que ela haja de maneira
irracional, muitas vezes infantil.
O fator interno, por sua vez, diz respeito à perspectiva que
temos em relação ao futuro. Grande parte das pessoas, acometidas pela culpa e
pela baixa autoestima, não se sentem merecedoras das coisas boas da vida. Quando
esses sentimentos se aprofundam, o indivíduo passa a acreditar, ainda que em
nível não consciente, que merece ser punido, e esse sentimento, aliado à
possibilidade da ocorrência do evento externo, provoca o medo.
Não estou falando aqui de eventos episódicos de medo, que
são perfeitamente naturais. Refiro-me àquelas pessoas que vivenciam o medo
permanentemente ou, pelo menos, sempre que algo novo aparece em suas vidas, ou
ainda em situações específicas, que sempre geram o mesmo sentimento. Um exemplo
clássico é o medo de avião. De fato, sempre há a possibilidade de o avião
sofrer algum tipo de acidente, uma vez que temos observado que aviões caem,
ainda que em uma porcentagem quase desprezível. Tal probabilidade, unida ao
desejo inconsciente de punição, fazem que o medo se desenvolva em uma camada
menos inconsciente, que desconhece o nosso “desejo oculto”.
Assim, para que o medo crônico ocorra é necessário que haja
essas duas variáveis. A pergunta que surge é se há alguma maneira de vencer o
medo. E a resposta é sim. Mas para que você consiga ultrapassar a barreira do
medo, tem que entender que, entre essas duas variáveis, externa e interna,
somente uma delas pode ser modificada. A causa externa é independente de nossa
capacidade de influência. No exemplo do avião, não há nada que possamos fazer
que anule a chance do acidente. É impossível. Resta, então, trabalhar sobre a
segunda variável, a interna.
O problema, como sempre, está na mente. O fato de a pessoa
acreditar que merece algum tipo de punição é algo que se refere ao passado,
quando cometeu um ato ou uma série de atos que lhe parecem reprováveis e,
igualmente, ao futuro, já que projeta o acerto de contas para um momento mais à
frente no tempo. E como já estamos cansados de saber, entre o passado e o
futuro, ou melhor, além deles, está o único momento que realmente existe, que é
o momento presente.
Somente permanecendo no momento presente é que você
conseguirá se livrar desses condicionamentos da mente, que também só sobrevivem
fora do presente. Aqui, agora, eu tenho certeza que você não tem problema algum,
medo algum. Nenhum mesmo. Se você parar para refletir, você nunca teve nenhum
problema ou motivos para ter medo. O que teve, assim como todos os demais seres
humanos, foram situações mais ou menos complexas com as quais teve que lidar.
Ocorre
que temos a tendência de agregar uma carga emocional a essas questões,
transformando-as em problemas ou em ameaças.
A maneira mais conhecida e eficiente que você dispõe para
lidar com essa questão é a meditação. Qualquer uma. É aquele momento em que
você permanece consigo mesmo, sem a companhia dos pensamentos, sentimentos e
sensações. Quando Jesus Cristo disse que era mais fácil um camelo passar pelo
buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus, se referia a isso, sobre
a impossibilidade de entrarmos com qualquer outra coisa que não seja nós
mesmos, na dimensão da salvação. Temos que despojar-nos de qualquer coisa,
interna ou externa, para realizar o encontro conosco mesmos, com a existência.
Procure refletir a respeito das causas do seu medo. Em que
situações ele se aprofunda? Após identificar tais situações, tente buscar a
origem dessas causas. Pode ser um acontecimento singular em sua infância ou,
ainda, uma série de comportamentos adotados por outras pessoas, que podem ser
seus pais, que de alguma maneira fizeram com que você desenvolvesse o medo como
forma de defesa. Mas se isso tudo ficar obscuro, não se preocupe. Com o tempo
as coisas ficam mais claras.
O importante é que você provoque esse contato com o medo
antes que ele surja por si só. Faça isso através da meditação. Sente-se em um
lugar tranquilo, com as costas eretas, feche seus olhos e foque sua atenção nos
quatro estágios da respiração: a inspiração, o momento suspenso com os pulmões
cheios, a expiração e o momento suspenso com os pulmões vazios. Não tente
explicar os pensamentos, sentimentos ou sensações que surgirem. Deixem que eles
sigam seu curso. Você permanece somente na respiração.
Se o medo aparecer, converse com ele, sinta o que tem a
aprender com ele. Acolha-o.
A boa notícia é que, com essa prática, além de você
conseguir vencer seus medos, de quebra vai incorporar à sua vida um sentimento
de paz que jamais imaginou ser possível.
Esse será o primeiro degrau de uma linda caminhada.
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