segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Independência é morte



Neste dia 7 de setembro, em que comemoramos a Independência do Brasil, acredito que devemos refletir o que é esta palavra repetida com tanto orgulho e com tanta esperança por todos nós, ao nos referirmos tanto a eventos que ocorreram em nível nacional, como a data de hoje, quanto aqueles que dizem respeito a nós mesmos e que muitas vezes tornam-se o objetivo de nossas vidas: tornar-nos independentes.

Para alcançar tal meta, acreditamos que diversas atitudes sejam necessárias, e tais atitudes via de regra foram ensinadas por nossos pais e são reforçadas diariamente em nossas cabeças. Quase sempre se referem à nossa condição econômica e significa que não devemos nos submeter à dependência de quem quer que seja. Principalmente pelo fato de que no mundo em que vivemos, prevalece a lei do “cada um por si”. Para isso, adotamos uma série de comportamentos que tem como ponto principal o trabalho. Temos que trabalhar para obtermos as condições de alcançar a tão sonhada independência.

Esse conceito não está errado, mas é incompleto. No nosso atual estágio da evolução, o trabalho é uma das únicas maneiras de cumprirmos uma das leis planetárias: a lei do pagamento. Tudo o que desejamos no mundo material deve ser adquirido mediante um sacrifício, isto é, devemos dar algo em troca. O dinheiro é a dimensão mais visível daquilo que devemos adquirir para, posteriormente, trocar pelo que necessitamos ou que acreditamos precisar.

Mas nesse ponto ocorre um paradoxo. Nós passamos toda a vida trabalhando para adquirir coisas, certos que esse poder nos trará felicidade. Mas o fato é que tudo aquilo que você fez até hoje, tanto no que diz respeito ao trabalho quanto aos seus frutos: casa, carro, viagens e outros bens materiais, não te trouxeram a felicidade que você imaginou que pudessem trazer. Em outras palavras, o seu trabalho até pode ter te conferido a liberdade para comprar aquilo que deseja, mas no fim das contas, você percebe que esses bens não foram capazes de proporcionar a paz e a harmonia tão almejadas.

Isso tem uma explicação simples. Acontece que a verdadeira independência não está no fato de você poder comprar o que quer. Muitos já disseram que rica não é a pessoa que tem o que deseja, mas a pessoa que não necessita dessas coisas. E quando me refiro a não necessitar, não estou dizendo que adquirir uma televisão ou uma geladeira seja algo errado. Pelo contrário, é importante que sejamos prósperos. O ponto onde quero chegar é que não podemos depositar nossas esperanças nisso. Todos esses objetos podem nos trazer alegrias fugazes, mas aquele vazio tão conhecido não será preenchido.

Quem é esse que acha que precisa das coisas deste mundo para ser feliz? E quem é você, que percebe que isso não era verdade, pouco tempo depois de passar a ter isso ou aquilo?

A verdadeira independência, tanto de países como de pessoas, não está relacionada ao quão prósperos são, mas sim em como se relacionam com o objeto de seus desejos. O país mais rico do mundo não é composto pelas pessoas mais felizes. Tampouco o mais pobre. E essa é uma prova de que a riqueza material ou a tecnologia não são capazes de garantir a felicidade ou a independência de ninguém. Se assim fosse, o grau de desenvolvimento econômico de uma nação ou de um indivíduo seria diretamente proporcional ao da realização desses. E isso é facilmente refutável.

Enquanto estivermos acreditando que a vida se resume a nascer, crescer, desenvolver-se, reproduzir-se, fazer algumas compras e morrer, estaremos reproduzindo um padrão comprovadamente fracassado. Não é possível que sigamos acreditando em uma fórmula que dia após dia tem provocado tanta infelicidade e violência, como, por exemplo, nos fatos recentes envolvendo as centenas de milhares de refugiados na Europa ou, ainda, nas atrocidades dominicais cometidas por torcidas de futebol.

Devemos buscar a nossa independência no nível interno. É dentro de nós que está o único ser que já é independente, mas não é reconhecido por nosso conceitos, nossas fantasias, nossos desejos e comportamentos infantis. Precisamos mergulhar em nossos sentimentos negados, nos nossos traumas, nas raízes de nossos condicionamentos. Necessitamos descobrir a geografia interna de nossas mentes, atuais mandatárias de nossos atos. É chegada a hora de transformar nossos valores.

Até aqui nos trouxe nosso ego. A partir daqui temos a escolha – que sempre tivemos, de eleger como guias de nossos destinos aquilo que não muda, que é permanente, que não depende das circunstâncias. Muitos nomes já foram dados a isso, mas em resumo trata-se de nós mesmos, aspectos da divindade. Devemos acreditar que não somos aqueles que julgamos ser, e isso só é possível se iniciarmos aqui e agora uma séria reflexão a respeito de nós mesmos.

Precisamos que algumas partes de nossa personalidade morram para que os nossos verdadeiros valores possam emergir e nos guiar pelos mistérios da vida. A partir daí, passaremos a entender que o lema mais adequado não é o “Independência ou Morte”, mas o “Independência é morte” de tudo aquilo que já está velho, ultrapassado, e precisa ser deixado para trás.


A única maneira de você alcançar a verdadeira independência é buscar, inicialmente, o que é real. Todo o demais, como já dizia Jesus, virá por acréscimo. A prosperidade, desta forma, ao invés de ser o produto de uma pseudo necessidade, converter-se-á em um presente da existência, do qual somos todos merecedores.

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