Existe uma dimensão em todos nós que é a responsável por nos
manter na prisão deste mundo tridimensional. Você pode argumentar que essa não
é a sua realidade, que você é completamente livre. Pode citar inclusive suas
viagens pelo mundo ou a liberdade que tem para se expressar, para ir e vir. O
problema é que você faz tudo isso dentro de uma prisão. É como imaginar um
pássaro encarcerado em uma gaiola no meio da mata. Ele tem todo o potencial para
ser livre, mas acredita não poder. Por que não quer.
A porta da gaiola está aberta, mas ele não sai. Tem medo!
A porta da sua gaiola também está aberta. Sempre esteve. Mas
você se recusa a sair porque além de ser o preso, é também o carcereiro. É
desta dimensão que te aprisiona a que me refiro. São nossos condicionamentos,
transmitidos de geração a geração, que te fazem sentir-se culpado, desajustado,
incompleto. É aquela melancolia que nos é tão familiar, estando no banheiro de
casa ou aos pés da torre Eiffel.
E quem ou o quê nos aprisiona?
Bem, para entender todo o processo, devemos refletir um
pouco sobre o tempo. Sim, o tempo do relógio, que nunca para e que nunca
alcançamos. O relógio sempre a reclamar nossos cuidados, nos fazendo ter
pressa, nos fazendo fatiar a realidade em pequenas frações de segundos ou
minutos. Que nos faz morrer sem dar-nos a chance de entendermos a razão pela
qual viemos, permanecemos e nos despedimos deste mundo. É aí, na ilusão do
tempo, que encontraremos a razão do nosso aprisionamento.I
Em primeiro lugar eu te pergunto: o que é o tempo? O entendimento
geral é que é a forma de medir a sucessão de fenômenos naturais, como a volta
que o nosso planeta dá ao redor de si ou ao redor do sol. Ao primeiro se dá o
nome de dia, ao último, ano. A partir disso, fomos subdividindo os anos em
meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos. Assim, nos restou a percepção
de que aquilo que não é passado, é futuro. Após a passagem de um segundo, logo
vem outro, e mais outro, e um terceiro, em um ritmo infinito de ponteiros que
não te permitem perceber que o único “tempo” que existe não está no milionésimo
de segundo que já se foi, tampouco no que chega, mas além de qualquer tentativa
de medir a existência.
É claro que a medição do tempo é algo fundamental para a
organização da vida humana externa, já que precisamos de um mínimo de
organização para viver neste mundo. O problema é que estamos sempre procurando
algo fora do momento presente para sermos felizes. Por um lado, as memórias de
momentos agradáveis ou lembranças traumáticas; por outro, a expectativa de momentos futuros nos quais,
finalmente, poderemos alcançar aquilo que sempre procuramos. Seremos felizes no
fim do expediente, no fim de semana, nas férias ou na aposentadoria. E quando
chegamos lá, descobrimos que ainda falta só mais uma coisinha para alcançarmos a
felicidade. E ela está, mais uma vez, em um ponto um pouco adiante no tempo. E
morremos sem alcançar a meta.
A verdadeira felicidade não pode ser buscada em termos de
lembranças ou expectativas. Vivemos no eterno agora, que é precisamente a
eternidade a qual Jesus Cristo se referiu diversas vezes. O nosso corpo
envelhece não pela passagem do tempo do relógio, mas porque ele foi programado
para se deteriorar com o objetivo de percebermos que ele é somente um veículo
que leva, neste mundo, uma consciência que está dentro e fora dele. E ela é
tudo o que existe.
Alguns conceitos não podem ser explicados através de
palavras. Mas àquele que se dá a chance de experimentar, são completamente
perceptíveis através da interiorização de nossa atenção. O “segredo” é nos
voltarmos a nós mesmos, ao nosso interior. Temos que buscar a raiz de nossos
pensamentos, sentimentos e sensações, e para isso necessitamos colocar ali o
foco da nossa atenção. Perguntar-nos o porquê de todos esses padrões de
comportamento que nos levam a cometer os mesmos erros durante toda a nossa
vida. O porquê de vivermos hipnotizados pela ilusão do tempo psicológico.
O ser humano vive de identificação a identificação. É motivado,
às vezes, pela propaganda de coca-cola (inclusive com consequências físicas,
como a sede), ou pelo desejo de comprar um carro, uma roupa ou um chocolate. É levado
a buscar sensações psicológicas como a sensualidade, por exemplo, através dos
intermináveis estímulos que lhe são apresentados durante todo o dia, na
internet, nos outdoors das grandes cidades, nas conversas triviais do dia a
dia.
E esse “eu que deseja” nos vai fazendo querer algo diferente
a cada momento, tudo isso em busca da felicidade que jamais é preenchida pela
aquisição desses objetos, físicos ou não. Esse eu é o carcereiro, alimentado
permanentemente pelos estímulos externos e pelas necessidades por eles geradas.
Como ser feliz dessa maneira?
A boa notícia é que você pode despedir o carcereiro. Você
pode sair pela porta aberta desse cárcere e desfrutar de tudo aquilo que a
existência tem a te oferecer. Mas, para isso, é necessária uma vontade
consciente no sentido de buscar o que é permanente, o que é independente dos
nossos desejos, insaciáveis e ineficazes na busca da verdadeira liberdade.
Uma das maneiras mais eficientes para isso é a prática da
meditação, que está disponível para todos os que buscam sair desse labirinto
criado pela nossa mente. Há inúmeras técnicas que nos guiam neste caminho.
Basta que você procure uma com a qual se identifique. Está na hora de você tomar
as rédeas da sua vida. É chegado o instante de viver a vida, aqui e agora.
Despeça o carcereiro. Assine hoje ainda a sua carta de demissão.
Saia dessa sala escura e vá para onde o sol verdadeiramente brilha. Ali você
vai sentir a brisa fresca de uma nova realidade.
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