segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Despeça o carcereiro!



Existe uma dimensão em todos nós que é a responsável por nos manter na prisão deste mundo tridimensional. Você pode argumentar que essa não é a sua realidade, que você é completamente livre. Pode citar inclusive suas viagens pelo mundo ou a liberdade que tem para se expressar, para ir e vir. O problema é que você faz tudo isso dentro de uma prisão. É como imaginar um pássaro encarcerado em uma gaiola no meio da mata. Ele tem todo o potencial para ser livre, mas acredita não poder. Por que não quer.

A porta da gaiola está aberta, mas ele não sai. Tem medo!

A porta da sua gaiola também está aberta. Sempre esteve. Mas você se recusa a sair porque além de ser o preso, é também o carcereiro. É desta dimensão que te aprisiona a que me refiro. São nossos condicionamentos, transmitidos de geração a geração, que te fazem sentir-se culpado, desajustado, incompleto. É aquela melancolia que nos é tão familiar, estando no banheiro de casa ou aos pés da torre Eiffel.

E quem ou o quê nos aprisiona?

Bem, para entender todo o processo, devemos refletir um pouco sobre o tempo. Sim, o tempo do relógio, que nunca para e que nunca alcançamos. O relógio sempre a reclamar nossos cuidados, nos fazendo ter pressa, nos fazendo fatiar a realidade em pequenas frações de segundos ou minutos. Que nos faz morrer sem dar-nos a chance de entendermos a razão pela qual viemos, permanecemos e nos despedimos deste mundo. É aí, na ilusão do tempo, que encontraremos a razão do nosso aprisionamento.I

Em primeiro lugar eu te pergunto: o que é o tempo? O entendimento geral é que é a forma de medir a sucessão de fenômenos naturais, como a volta que o nosso planeta dá ao redor de si ou ao redor do sol. Ao primeiro se dá o nome de dia, ao último, ano. A partir disso, fomos subdividindo os anos em meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos. Assim, nos restou a percepção de que aquilo que não é passado, é futuro. Após a passagem de um segundo, logo vem outro, e mais outro, e um terceiro, em um ritmo infinito de ponteiros que não te permitem perceber que o único “tempo” que existe não está no milionésimo de segundo que já se foi, tampouco no que chega, mas além de qualquer tentativa de medir a existência.

É claro que a medição do tempo é algo fundamental para a organização da vida humana externa, já que precisamos de um mínimo de organização para viver neste mundo. O problema é que estamos sempre procurando algo fora do momento presente para sermos felizes. Por um lado, as memórias de momentos agradáveis ou lembranças traumáticas; por outro, a expectativa de momentos futuros nos quais, finalmente, poderemos alcançar aquilo que sempre procuramos. Seremos felizes no fim do expediente, no fim de semana, nas férias ou na aposentadoria. E quando chegamos lá, descobrimos que ainda falta só mais uma coisinha para alcançarmos a felicidade. E ela está, mais uma vez, em um ponto um pouco adiante no tempo. E morremos sem alcançar a meta.

A verdadeira felicidade não pode ser buscada em termos de lembranças ou expectativas. Vivemos no eterno agora, que é precisamente a eternidade a qual Jesus Cristo se referiu diversas vezes. O nosso corpo envelhece não pela passagem do tempo do relógio, mas porque ele foi programado para se deteriorar com o objetivo de percebermos que ele é somente um veículo que leva, neste mundo, uma consciência que está dentro e fora dele. E ela é tudo o que existe.

Alguns conceitos não podem ser explicados através de palavras. Mas àquele que se dá a chance de experimentar, são completamente perceptíveis através da interiorização de nossa atenção. O “segredo” é nos voltarmos a nós mesmos, ao nosso interior. Temos que buscar a raiz de nossos pensamentos, sentimentos e sensações, e para isso necessitamos colocar ali o foco da nossa atenção. Perguntar-nos o porquê de todos esses padrões de comportamento que nos levam a cometer os mesmos erros durante toda a nossa vida. O porquê de vivermos hipnotizados pela ilusão do tempo psicológico.

O ser humano vive de identificação a identificação. É motivado, às vezes, pela propaganda de coca-cola (inclusive com consequências físicas, como a sede), ou pelo desejo de comprar um carro, uma roupa ou um chocolate. É levado a buscar sensações psicológicas como a sensualidade, por exemplo, através dos intermináveis estímulos que lhe são apresentados durante todo o dia, na internet, nos outdoors das grandes cidades, nas conversas triviais do dia a dia.

E esse “eu que deseja” nos vai fazendo querer algo diferente a cada momento, tudo isso em busca da felicidade que jamais é preenchida pela aquisição desses objetos, físicos ou não. Esse eu é o carcereiro, alimentado permanentemente pelos estímulos externos e pelas necessidades por eles geradas. Como ser feliz dessa maneira?

A boa notícia é que você pode despedir o carcereiro. Você pode sair pela porta aberta desse cárcere e desfrutar de tudo aquilo que a existência tem a te oferecer. Mas, para isso, é necessária uma vontade consciente no sentido de buscar o que é permanente, o que é independente dos nossos desejos, insaciáveis e ineficazes na busca da verdadeira liberdade.

Uma das maneiras mais eficientes para isso é a prática da meditação, que está disponível para todos os que buscam sair desse labirinto criado pela nossa mente. Há inúmeras técnicas que nos guiam neste caminho. Basta que você procure uma com a qual se identifique. Está na hora de você tomar as rédeas da sua vida. É chegado o instante de viver a vida, aqui e agora.


Despeça o carcereiro. Assine hoje ainda a sua carta de demissão. Saia dessa sala escura e vá para onde o sol verdadeiramente brilha. Ali você vai sentir a brisa fresca de uma nova realidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...