Se você fosse transportado para outro planeta, habitado por
uma civilização completamente diferente, com outros corpos, outra cultura,
outras leis morais, físicas e espirituais. Um mundo no qual ninguém imaginasse o
que é o ser humano ou como é a vida na Terra. Talvez você fosse levado a um
Conselho de Dirigentes daquele povo, para explicar como é a vida no nosso
planeta. Acredito que uma das primeiras perguntas que te fariam seria:
- O que é o ser humano?
O que você responderia? Bem, pra começar acho que uma
resposta seria que é um ser composto por cabeça, tronco e membros, que nasce de
uma fêmea, após a concepção que conta com a participação de um macho da
espécie. Que tem pensamentos, sentimentos, ambições, esperanças, desilusões e
tristezas. Que anda pelas ruas das grandes cidades atrás do seu sustento. Que
trabalha oito horas por dia e, nos fins de semana, senta-se na frente de um
aparelho chamado televisão, para assistir histórias de outros seres humanos, com
as mesmas características fundamentais.
Talvez os representantes do povo do outro planeta se
entreolhassem e pacientemente explicassem que pode ser que você não tenha
entendido a pergunta. Na verdade – diriam eles – nós gostaríamos de saber o que
vocês são, não o que fazem.
Após alguns segundos de insegurança, talvez você se desse
conta que não saberia responder a pergunta. Diria que as pessoas no seu planeta
são conhecidas pela sua profissão, por seus aspectos físicos, pela sua religião
ou classe social. Que lá na Terra ninguém estaria muito interessado em outros
detalhes que não os sinais externos apresentados por cada uma das pessoas de
sua convivência.
Embora não tenham entendido muito bem, seus anfitriões prosseguem e fazem uma
segunda pergunta:
- O que são esses tais sentimentos citados por você?
Mais uma vez faltaria resposta. Ou, quem sabe, você diria
que a alegria, por exemplo, é um sentimento que nos deixa bem, satisfeitos,
contentes. A tristeza, por sua vez, é algo desagradável, pesado, que faz com
que percamos nossa energia.
Silêncio mais uma vez. O mais velho entre os seres daquele
planeta tomaria a palavra:
- Entendemos os efeitos que esses fenômenos causam em seres da sua espécie. Mas perguntamos não sobre eles, mas sobre os
sentimentos propriamente ditos. O que são?
E naquele momento você perceberia que sabe muito pouco a
respeito de si próprio e de todos os que o rodeiam. O que nós achamos que
conhecemos são apenas os efeitos que os fenômenos têm sobre nosso corpo e nossa
mente. Melhor ainda, são as percepções a respeito desses efeitos. Por outro
lado, desconhecemos o fenômeno em si. Preocupamos-nos por descobrir as consequências
ou as causas dos acontecimentos, mas somos incapazes de sequer descrever o que
são.
Quem poderia explicar, por exemplo, o que é uma árvore? Um
botânico pode passar horas descrevendo suas características como nome, gênero, família,
reino, peculiaridades relativas a seus processos de absorção de luz, de água, a
maneira como se reproduz. Entretanto, todos esses detalhes não respondem a
pergunta. Continuamos sem saber o que é aquele ser ao qual demos o nome de
árvore.
O mesmo ocorre conosco. Estamos identificados com nosso
nome, nossos laços familiares, nossa biografia, nossa profissão. E paramos por
aí. Se estamos doentes, vamos a um médico que, ao estudar os sintomas
apresentados, prescreve um tratamento. Ele até te diz o nome da enfermidade,
suas características, sintomatologia, cuidados e, claro, os remédios que você
deve tomar para melhorar. Mas ignora o que é, de fato, a doença. Quando muito
ele sabe as suas causas, suas consequências e os agentes químicos que
melhorarão seu estado de saúde. Ponto.
A sociedade onde vivemos é pródiga em dar nome para as
coisas. Tudo é etiquetado, mas o conhecimento das coisas permanece somente na
superfície. Isso vale para as coisas e para as pessoas. Carecemos de um
conhecimento que vai além do simples reconhecimento externo. Necessitamos nos
aprofundar na essência, naquilo que está para além de um nome, de uma
quantidade, uma cor ou qualquer outra característica. Precisamos entrar em
contato com a “alma” do mundo.
Existe em você algo que é antes e depois de você ter um
nome, uma profissão e uma família. No decorrer da sua vida, talvez você já
tenha tido uma percepção sutil a respeito dessa dimensão mais profunda do ser. A
nossa meta deve ser “descobrir” o que é isso. Quem, dentro de você, é capaz de
entender o significado mais profundo destas palavras? Onde está a sede da sua consciência?
Abra na sua mente um espaço para o “não sei”. Deixe de
tentar dar uma explicação ou um nome para tudo. É desse novo olhar, sem
pretensões ou julgamentos, que surgirá aquele que é capaz de responder às perguntas
realmente relevantes. E as respostas, na maioria das vezes, não poderão ser
expressadas em palavras, mas serão apenas reconhecidas como reais por aquilo
que é real. Por aquilo que é você.
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