terça-feira, 25 de agosto de 2015

Se você estivesse em outro planeta




Se você fosse transportado para outro planeta, habitado por uma civilização completamente diferente, com outros corpos, outra cultura, outras leis morais, físicas e espirituais. Um mundo no qual ninguém imaginasse o que é o ser humano ou como é a vida na Terra. Talvez você fosse levado a um Conselho de Dirigentes daquele povo, para explicar como é a vida no nosso planeta. Acredito que uma das primeiras perguntas que te fariam seria:

- O que é o ser humano?

O que você responderia? Bem, pra começar acho que uma resposta seria que é um ser composto por cabeça, tronco e membros, que nasce de uma fêmea, após a concepção que conta com a participação de um macho da espécie. Que tem pensamentos, sentimentos, ambições, esperanças, desilusões e tristezas. Que anda pelas ruas das grandes cidades atrás do seu sustento. Que trabalha oito horas por dia e, nos fins de semana, senta-se na frente de um aparelho chamado televisão, para assistir histórias de outros seres humanos, com as mesmas características fundamentais.

Talvez os representantes do povo do outro planeta se entreolhassem e pacientemente explicassem que pode ser que você não tenha entendido a pergunta. Na verdade – diriam eles – nós gostaríamos de saber o que vocês são, não o que fazem.

Após alguns segundos de insegurança, talvez você se desse conta que não saberia responder a pergunta. Diria que as pessoas no seu planeta são conhecidas pela sua profissão, por seus aspectos físicos, pela sua religião ou classe social. Que lá na Terra ninguém estaria muito interessado em outros detalhes que não os sinais externos apresentados por cada uma das pessoas de sua convivência.
Embora não tenham entendido muito bem, seus anfitriões prosseguem e fazem uma segunda pergunta:

- O que são esses tais sentimentos citados por você?

Mais uma vez faltaria resposta. Ou, quem sabe, você diria que a alegria, por exemplo, é um sentimento que nos deixa bem, satisfeitos, contentes. A tristeza, por sua vez, é algo desagradável, pesado, que faz com que percamos nossa energia.

Silêncio mais uma vez. O mais velho entre os seres daquele planeta tomaria a palavra:

- Entendemos os efeitos que esses fenômenos causam em seres da sua espécie. Mas perguntamos não sobre eles, mas sobre os sentimentos propriamente ditos. O que são?

E naquele momento você perceberia que sabe muito pouco a respeito de si próprio e de todos os que o rodeiam. O que nós achamos que conhecemos são apenas os efeitos que os fenômenos têm sobre nosso corpo e nossa mente. Melhor ainda, são as percepções a respeito desses efeitos. Por outro lado, desconhecemos o fenômeno em si. Preocupamos-nos por descobrir as consequências ou as causas dos acontecimentos, mas somos incapazes de sequer descrever o que são.

Quem poderia explicar, por exemplo, o que é uma árvore? Um botânico pode passar horas descrevendo suas características como nome, gênero, família, reino, peculiaridades relativas a seus processos de absorção de luz, de água, a maneira como se reproduz. Entretanto, todos esses detalhes não respondem a pergunta. Continuamos sem saber o que é aquele ser ao qual demos o nome de árvore.

O mesmo ocorre conosco. Estamos identificados com nosso nome, nossos laços familiares, nossa biografia, nossa profissão. E paramos por aí. Se estamos doentes, vamos a um médico que, ao estudar os sintomas apresentados, prescreve um tratamento. Ele até te diz o nome da enfermidade, suas características, sintomatologia, cuidados e, claro, os remédios que você deve tomar para melhorar. Mas ignora o que é, de fato, a doença. Quando muito ele sabe as suas causas, suas consequências e os agentes químicos que melhorarão seu estado de saúde. Ponto.

A sociedade onde vivemos é pródiga em dar nome para as coisas. Tudo é etiquetado, mas o conhecimento das coisas permanece somente na superfície. Isso vale para as coisas e para as pessoas. Carecemos de um conhecimento que vai além do simples reconhecimento externo. Necessitamos nos aprofundar na essência, naquilo que está para além de um nome, de uma quantidade, uma cor ou qualquer outra característica. Precisamos entrar em contato com a “alma” do mundo.

Existe em você algo que é antes e depois de você ter um nome, uma profissão e uma família. No decorrer da sua vida, talvez você já tenha tido uma percepção sutil a respeito dessa dimensão mais profunda do ser. A nossa meta deve ser “descobrir” o que é isso. Quem, dentro de você, é capaz de entender o significado mais profundo destas palavras? Onde está a sede da sua consciência?


Abra na sua mente um espaço para o “não sei”. Deixe de tentar dar uma explicação ou um nome para tudo. É desse novo olhar, sem pretensões ou julgamentos, que surgirá aquele que é capaz de responder às perguntas realmente relevantes. E as respostas, na maioria das vezes, não poderão ser expressadas em palavras, mas serão apenas reconhecidas como reais por aquilo que é real. Por aquilo que é você.



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