segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Ainda sobre o karma



Já escrevi aqui, há pouco tempo, sobre o karma. Mas considerando o grande interesse que o tema gerou, decidi por aprofundar um pouco mais na questão. O tema é complexo e interessante, e deve ser encarado por todos aqueles que já têm a capacidade de questionar seus próprios comportamentos.

Inicio repetindo que karma não é uma dívida de sofrimento, mas uma dívida de entendimento. Não é necessário que soframos para que nos libertemos do karma, mas infelizmente não é isso que ocorre normalmente. Via de regra, precisamos passar por situações desagradáveis para iniciarmos uma reflexão sobre aquilo que devemos mudar em nossas vidas.

Indo um pouco além, gostaria de esclarecer que o karma não é um resultado de nossas ações. Isso pode parecer ir contra tudo aquilo que você já leu sobre o tema ou mesmo contradizer aquilo que eu disse antes. Mas a verdade tem diversas camadas, e estou apresentando a você uma mais profunda. Repito: o karma não surge como consequência de uma ação ou omissão sua.

Isso seria vingança.

Mas então, como ele é criado? Desde muito cedo aprendemos que, se formos boas pessoas, caridosas, honestas, respeitosas, etc, seremos salvos. O contrário também é verdadeiro, pois se formos desonestos, egoístas, desrespeitosos ou descrentes, seremos condenados. Outras doutrinas, tanto cristãs como não cristãs, repetem, com outras palavras, essa lei de causa e efeito que seria crucial para determinar a nossa vida futura, seja a partir do dia do julgamento ou em outra encarnação.

O que ocorre é que o karma não depende de nossas atitudes, positivas ou negativas. O que conta, na verdade, são os nossos padrões de pensamentos e as nossas correntes de pensamentos.

De maneira muito resumida, poderíamos dizer que qualquer corrente de pensamento ou padrão de pensamento em que você esteja paralisado, é karma. E isso pode ser utilizado em qualquer área ou dimensão de sua vida. Todo padrão mental que não esteja te trazendo prosperidade, saúde, felicidade, é karma. Mais profundamente, tudo o que não te permite alcançar a sua realização última – chamada por muitos de iluminação – é karma.

Mesmo que seja, de acordo com Parahamansa Nithyananda, uma linda e lógica teoria espiritual, ou ainda os ensinamentos de um grande professor espiritual. Se não te levam ao caminho da liberação, se não te fazem ser uma pessoa melhor, é karma.

Em verdade, o karma é a grande teia à qual estamos enredados. Os fios dessa teia são nossos condicionamentos mentais sobre absolutamente tudo. Perdemos a capacidade de ser autênticos, uma vez que nossa mente está programada para se comportar de determinada maneira diante de qualquer situação, de qualquer novidade, de qualquer coisa. Estamos presos aos fios do karma simplesmente pelo fato de não conseguirmos– quase sempre sequer tentamos – nos livrar de nossos condicionamentos diante do mundo, interno e externo.

Você já reparou que tem uma maneira padronizada de comportamento diante dos estímulos que se apresentam em sua vida? Você fica frustrado quando não consegue o que quer, fica triste quando seu time perde, perde a paciência na fila do banco, xinga o motorista que te corta na rua. Nenhum desses comportamentos está sob seu controle. Você não os escolhe, mas está preso a eles pelas teias do karma, gerados pelas tecedeiras mentais.

Se tais condicionamentos são menos duradouros e se restringem a questões específicas, os chamamos padrões mentais. Se forem mais longos, muitas vezes perdurando por toda a nossa vida, denominamos correntes de pensamento.

Todos já vivemos situações transcendentais. Pode ser aquele momento, na infância, em que estamos com nossos pais e, por algum motivo, uma felicidade sem causa nos toma e nos leva para as alturas. Ou durante uma caminhada junto à natureza, quando de repente nos sentimos leves, felizes, completos. Nessas situações, torcemos para permanecer naquele estado de beatitude, mas somos arrastados novamente para nosso estado normal. Isso é causado justamente pelas forças do karma.

De maneira muito simples, os padrões e as correntes de pensamentos são a maneira como vemos e julgamos o mundo. Uma pessoa violenta, por exemplo, enxergará o mundo através de padrões e correntes de pensamentos ligados à violência. É como uma fonte que envenena todas as atitudes daquela pessoa. Tudo passa e se amolda a ela, tanto o que chega quanto ao que sai da pessoa.

Quais são os seus padrões de pensamento? Qual é a energia mental que não te abandona, que te sufoca, que te faz mal e se repete todos os dias?

Muitas pessoas carregam consigo o que é chamado de medo da escassez. A partir daí, desenvolvem padrões e correntes de pensamento voltados para a avareza ou para a desonestidade. Tais comportamentos são adotados para que a pessoa se defenda do mundo que ela vê como inimigo. É daí, desses padrões e correntes mentais, que surge o karma.

Isso nos faz concluir que, no fim das contas, existe uma explicação óbvia para que em geral consideremos o karma como um resultado de nossas ações. A pessoa que está presa nesses grilhões da mente age de acordo com eles. Daí, para aquele mais desatento, parece haver uma relação entre as ações e os resultados, o que não é inteiramente verdadeiro. Portanto, não adianta modificarmos nossas atitudes externas, já que o karma surge dos movimentos internos que dão causa aos nossos atos. Precisamos cambiar nossos padrões e correntes mentais. A partir daí, naturalmente transformamos também a nossa maneira de lidar com as coisas do mundo.

Outra consequência indissociável da manutenção desses padrões é a atração que exercemos em direção a outras pessoas que vibram de maneira semelhante. Nesses casos, a lei do “semelhante atrai semelhante” é aplicada em sua plenitude. E essa é uma boa notícia, pois quando conseguimos nos libertar desses padrões e correntes de pensamento, automaticamente damos um passo em nosso caminho evolutivo e atraímos pessoas que estão nesse novo nível. A vida melhora. O problema é que se permanecemos estacionados, as coisas simplesmente não andam em nossas vidas. Parece que nada vai pra frente, e não vai mesmo.

Mas o que podemos fazer para nos livrarmos de toda essa carga desnecessária?

Podemos começar questionando todos os nossos comportamentos, começando pelos maiores e mais “sufocantes”. Quem, em você, está interessado em manter uma corrente de pensamentos que te prende, te faz mal, mas parece estar tão ligada a você mesmo que se confunde com aquilo que você chama de personalidade? Na verdade, o que é a personalidade, se não um conjunto de comportamentos condicionados, que te fazem ser essa pessoa incompleta?

Por mais assustador que pareça, você não é quem pensa ser. Os seus atos não são controlados por você, mas condicionados a medos e traumas que você carrega desde a infância ou, ainda, de outras vidas. E você acredita ter pouca margem de manobra, uma vez que não se vê em condições de adotar outro comportamento diante do mesmo estímulo.

Você pode sair dessa prisão do condicionamento, desse cárcere da mente, dessas teias do karma, mas para isso você tem que desejar a mudança. Isso, por si só, já vai acionar em você algumas forças que você desconhecia. Parece fácil e é, desde que você se entregue à possibilidade de quebrar essas correntes, que não têm te levado a lugar algum. No começo pode parecer desafiador, mas tudo é uma questão de decisão.

Você tem um mundo de possibilidades, mas atualmente é um rei que mendiga atenção, afeto, amor. É a imagem e semelhança do Criador, mas age como se fosse indigno de alcançar os seus objetivos. Jogue tudo isso fora e perceba que a sua vida vai automaticamente melhorar. Essa é uma lei mecânica, isto é, apertando os botões certos, a máquina cósmica funciona, e te entrega os tesouros espirituais que nunca estiveram fora do seu alcance.

Liberte-se de todas essas peças que a mente te prega. A principal é fazê-lo acreditar ser os pensamentos, sentimentos, emoções. Nada disso é você. Ao contrário, isso tudo é a causa de seu sofrimento, de seu sentimento de incompletude, daquele vazio que você sente no peito e não sabe o porquê.


Faça isso agora.


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