Winston Churchill, o longevo 1º Ministro do Reino Unido
durante a 2ª Guerra Mundial, certa vez falou que “a democracia é a pior forma
de governo, excetuando-se as demais”. Quem sou eu para contradizê-lo, mas tomo
a liberdade de fazer algumas reflexões, em especial sobre a democracia à
brasileira.
Não vou falar aqui sobre aspectos técnicos da democracia –
até porque não seria capaz de trazer qualquer colaboração ao tema, já tão
discutido –, mas trago uma visão bastante pessoal da sociedade brasileira,
incluindo aí os seus representantes e dirigentes. E faço isso contaminado pelo
momento que passa nosso pobre país, tão vítima de nós mesmos.
Bem, a principal característica dessa tal democracia é o
poder conferido ao povo de eleger seus representantes, para que em seu nome
governem o país. Até aí tudo bem, uma vez que não foi ainda possível retornar a
formas antigas de participação popular mais direta. O problema é que em uma
sociedade imatura e individualista como a nossa, na qual cada um tem a
tendência de pensar somente no bem-estar do próprio umbigo, somente os mais
vis, os mais medíocres, os mais mesquinhos, os que estão dispostos a cometer
qualquer tipo de baixeza para alcançarem o poder é que conseguem chegar lá. Em
suma: a impressão que dá é que somos governados pela escória de nossa gente.
Estou enjoado do Jornal Nacional. Assisto-o eventualmente, e
quando o faço é para observar as cenas dantescas de uma novela sem fim, na qual
o enredo é o mesmo de sempre: mensalinhos, mensalões e pixulecos. E esse
fenômeno não é uma mera consequência de nossa moral torta, de nossos generosos
limites éticos, embora faça parte disso. O desonesto não espera ser eleito para
depois se aproveitar das benesses do cargo, assim como aquele que instala o
gatonet não se tornou desonesto somente quando surgiu a TV a cabo. O
comportamento de ambos já é duvidoso antes de assumirem uma cadeira no Parlamento
ou de assistirem à HBO. Ambos são ladrões.
Digo isso porque aquilo que testemunhamos diariamente é
fruto de padrões comportamentais que são próprios de nosso país. Somos orgulhosos
da agilidade de nossas gambiarras, nunca pela tão sonhada capacidade de planejamento.
E a cereja do bolo da falta de preparo intelectual é a nossa "moral de cueca" que não permite que alcancemos padrões éticos mínimos que nos permitam
viver com um mínimo de civilidade. Em artigo recente, Fernanda Torres cita a
mãe, que disse sentir uma mortalha sobre a cidade do Rio de Janeiro, tamanho é
o descontrole em todas as parcelas da vida daquela cidade: a polícia não
protege, a justiça não julga, o ministério público não denuncia, a família não
forma, a escola não educa, a saúde não cura. Mas, apesar de tudo isso, perdemos
também a capacidade da catarse. A mortalha parece que nos cobriu a todos.
Voltando ao tema principal, é muito claro que vivemos uma
crise de representatividade. A maneira como as nossas instituições estão
organizadas já não nos serve, mas ao mesmo tempo não sabemos muito bem o que
queremos. Sou partidário de começarmos tudo de novo. Façamos uma revolução, uma
guerra, uma nova constituição, invadamos o congresso, demitamos todos os
servidores públicos, vendamos o país, “locupletemo-nos todos”, sei lá. O que
não dá é para continuarmos assistindo, atônitos e incrédulos, sem fazermos
nada. As tais das soluções democráticas não têm solucionado nada. Então criemos
novas soluções para problemas antigos.
Mas, sobretudo, temos que entender que aquilo que ocorre nos
confortáveis gabinetes governamentais não é diferente daquilo que se passa nas
ruas de nosso país. Repito: existe um padrão comportamental comum tanto naquele
que batiza a gasolina quanto no que recebe um prêmio cada vez que se reajustam
as tarifas de ônibus. O que difere é a magnitude do dano causado.
Sinto-me também anestesiado, “amortalhado”, e talvez essas
palavras sejam uma tentativa de não me tornar indiferente. Diante do holocausto
moral observado no Brasil, não quero acreditar que a única saída seja o
aeroporto internacional mais próximo.
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