quinta-feira, 27 de abril de 2017

Por trás dos neurônios





Hoje pela manhã estava conversando com meu filho (que é estudante do 2º ano de medicina), sobre o sistema nervoso  humano. Confesso que não entendi muita coisa do que ele disse, a respeito da fisiologia ou da estrutura, mas algo da conversa ficou ressoando.

Ele me explicava sobre a especialização dos inúmeros nervos que temos no corpo. A função de muitos deles é conduzir impulsos (químicos e/ou elétricos) para o sistema nervoso central, isto é, em especial para o nosso cérebro. Dizia também que esses impulsos chegam aos neurônios, responsáveis pela condução desses estímulos externos: imagens, sons, maciez, cheiros, etc.

Daí me peguei pensando: e a partir daí, o que acontece com esses impulsos? Eles desaparecem após cumprirem seu papel? E que papel seria esse?

Em resumo, me perguntava sobre quem é aquele que percebe esses impulsos? Quem é que está consciente do resultado desses impulsos elétricos? Para ser mais claro, vou dar um exemplo: Ao se produzir uma onda sonora em nosso campo de alcance auditivo, essas ondas entram pelos canais do ouvido até atingirem um nervo, responsável por conduzir esses "som" de alguma maneira para o cérebro. Esse impulso chega às estruturas neuronais e as atravessa graças a inúmeras reações químicas. Isso está muito claro, mas o que ocorre a partir daí? Quem ou o quê consegue perceber as diferenças entre um som e outro?


A nossa consciência não pode ser simplesmente o produto de reações químico elétricas. Se assim fosse, nada teríamos de diferente de um liquidificador, por exemplo. Para que esse aparelho funcione, há a necessidade de uma fonte de estímulo (no caso, a fonte externa de energia) e de fios de transmissão dessa energia, como nossos nervos. Mas ao contrário da máquina, existe um fenômeno que ocorre somente nos seres sencientes, que é a compreensão, em alguma dimensão, do que está ocorrendo externamente. A busca consciente ou inconsciente de todo e cada ser humano neste planeta é o retorno a esta fonte, de onde percebemos nós mesmos e o mundo.


Existem vários nomes para esse fenômeno, mas independente dessas denominações acho que valem algumas reflexões a respeito. E elas podem começar citando uma passagem bíblica, aquela famosa em que Moisés sobe ao monte e tem um encontro com Deus, que ardia em um arbusto. Após o primeiro contato, Moisés perguntou o nome de Deus, que respondeu, algo como  "Ehyeh Asher Ehyeh"  ou "Yahweh", dependendo da tradução. Mas as duas expressões são comumente traduzidas como "Eu sou o que sou". Essa expressão poderia ser sintetizada em uma ainda mais simples: Eu Sou.

É interessante notar que essa expressão - Eu Sou - não tem objeto, pois ela quer traduzir aquilo que antecede à existência dos objetos externos. Na verdade, é essa dimensão que observa o objeto e lhe dá sentido. Sem o observador, o objeto existiria? E sem o objeto, como poderia haver observador? Então, na realidade não existe qualquer diferença entre o observador e o observado. Como poderia existir?

Então, voltando ao assunto inicial, é evidente que existe esse algo que percebe o que é captado pelos sentidos. "Isso" consegue identificar a diferença entre cheirar e ver, ou sentir a superfície de um objeto e o seu gosto. O desafio é tentar compreender quem ou o que é essa fonte da consciência. Podemos até supor que ela se confunde com nossos neurônios, mas fica difícil manter esse entendimento se fracionarmos os neurônios em átomos e esses em estruturas ainda menores. Como é que a simples vibração dessas microestruturas, transmissores que são de impulsos, poderia resultar em inteligência ou capacidade de percepção do mundo?

É aí que se encontra a fronteira atual entre a medicina e as religiões que buscam a transcendência. Na verdade, os dois campos do conhecimento são um só, mas atualmente estão divididos neste ponto. A partir daí, há a necessidade de nos desvencilharmos de certezas puramente materiais e aceitarmos que existem dimensões que não podem ser explicadas pela ciência, ao menos neste ponto de nosso desenvolvimento.

Aquele que lê esse texto o faz em razão desse circuito elétrico humano? Ou o entendimento transcendental dessa verdade se faz em outra dimensão além dos intrincados sistemas pelos quais as impressões externas circulam?

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