segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Xangô ou Zoroastro?





Qual é a sua religião? Em que você crê? E quais são as razões dessa sua crença?

Eu costumo pensar que aquilo que acreditamos são mais fruto de uma questão geográfica do que uma convicção inequívoca de um encontro com a verdade. Não quero dizer com isso que as nossas motivações religiosas são menos importantes, mas que precisamos entender que, ao nascermos no Brasil, tivemos muito mais chances de nos tornarmos cristãos. E isso ocorreu em quase todo o ocidente. O mesmo ocorre com a pessoa que nasceu no Iraque, ou na Índia, ou em Barbados.

E muitas dessas pessoas acreditam que a sua crença é a única verdadeira.

Isso tudo leva ao tema principal dessas palavras: “tolerância”. Em tempos de Trump, que acaba de fechar as portas de sua casa para os diferentes, precisamos não somente entender e tolerar aqueles que não pensam como nós, o que se torna mais fácil quando entendemos que as causas dessas diferenças muitas vezes são circunstanciais, dependendo do local onde a pessoa nasceu ou a família onde foi criada. Na maioria das vezes, é só isso, ponto. As pessoas, geralmente, são iguais a nós. Sentem as dores e as alegrias que sentimos, as frustrações e as euforias que nos são tão próprias.

Devemos então relativizar as nossas certezas. Onde está a razão? Nos Vedas ou na Bíblia; no Alcorão ou no Zoar, no Canto Gregoriano ou nos Pontos da Umbanda? Na verdade, está em todos esses livros e cantos sagrados, que representam ideologias idênticas, travestidas de palavras e conceitos diferentes. E não adianta tentarmos nos convencer de que a nossa missão é espalhar o Evangelho, levar a verdade aos pagãos ou descrentes. Do outro lado, há pessoas que pensam exatamente o mesmo que nós, pois aos seus olhos nós que somos os infiéis. E, nesse caso, a razão não está nem de um lado nem de outro.

Em princípio, comparar Alá a Oxalá pode ser uma blasfêmia aos olhos de uns, ou loucura sob o ponto de vista de outros, mas as coincidências que unem esses “seres” – para além da semelhança entre os nomes, são maiores do que imaginamos. Basta que nos dispamos de preconceitos cujas raízes estão guardadas em nosso inconsciente. Ao acusar o outro disso ou daquilo, sequer nos permitimos entendê-lo, ou às suas convicções. Essa é a raiz de todo o mal que fazemos “em nome de Deus (ou Alá, ou Zambi, ou Javé)”.

A luz que nos ilumina é uma só, assim como uma só é a criação e um só o criador. Não importa quase nada o nome que damos, os rótulos que atribuímos à fonte de tudo o que há. Somos muito pequenos e limitados para acharmos que temos o monopólio da verdade. Se tivéssemos nascido na China, o destinatário de nossa devoção seria Lao Tsé. Na Índia seria Krishna, ou Shiva. Caso tivéssemos vindo ao mundo em um dos países escandinavos, poderíamos acreditar em Yarilo, ou em Svarog. Não seja tão presunçoso de achar que a sua crença é a fonte da verdade absoluta.

A título de exemplo, no Gita (Livro Sagrado Hindu), Krishna diz a Arjuna: "Eu sou o Destinatário, porque Eu sou a Meta de todos. Eu sou o Único. Não há nenhum Outro." Essa passagem se parece muito com o que disse Cristo: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai, senão por Mim." O Islamismo, por outro lado, acredita que "Só há um Deus: Allah, e Maomé é seu único Profeta". E a explicação para isso é muito simples: todos estão falando da Consciência Cósmica Universal, do Poder Criador, que é uno, não importa as palavras que são utilizadas para tentar descrevê-lo. A verdade está em todos os lugares, inclusive fora dessa ou daquela religião. Ela não é monopólio de qualquer sistema de pensamentos, e está disponível para aquele que se despir de qualquer dogma ou paradigma que o cristalize em certezas impossíveis.


Então, da próxima vez que se deparar com uma pessoa que não crê exatamente no mesmo que você, procure identificar os traços comuns entre vocês dois. Certamente você vai achar mais pontos de convergência do que de atrito. E, além disso, ganhará de quebra a chance de colher mais uma amizade incrível.

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