sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O leão Cecil e a histeria na internet




Há poucos dias, as páginas de internet em todo o mundo foram inundadas com notícias sobre a morte do leão Cecil, um dos mais famosos no Quênia. Chegou-nos a notícia de que ele foi abatido, por mero prazer desportivo, por um dentista norte-americano que agora paga o preço pelo seu ato. Sites, canais de TV e jornais de todo o mundo se levantaram em coro para exprimir sua indignação contra o ato bárbaro e desnecessário do caçador.

Logo em seguida, passado o primeiro momento, começaram a surgir outros posts, na contramão dos primeiros, que julgavam ser exagerada a reação do público, que estaria dando mais atenção a esta morte do que inclusive a de seres-humanos. Sob o ponto de vista dos autores, mais grave do que o assassinato do animal seria a morte dos cristãos pelo Estado Islâmico, ou das crianças abandonadas no Brasil, ou das vítimas da fome endêmica em diversos países da África. É algo a se pensar.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que toda morte não natural deve ser censurada, seja de um animal humano ou não. É natural que pessoas demonstrem mais preocupação quanto aos fatos ocorridos aos de sua espécie, mas nem por isso deixa de ser menos grave o abate de Cecil. Todos somos passageiros dessa grande nave a qual chamamos Terra, e temos os mesmos direitos de buscar a preservação e lutar contra a morte, ainda mais quando ela é causada por motivos tão torpes como o esporte (se é que podemos designá-lo assim), diferenças religiosas ou interesses econômicos.

Ocorre que, apesar de lamentar profundamente todos esses casos, me causa estranheza a (des)valoração que se dá à vida dos animais que nos servem de alimento. Por que a vida de uma vaca, ou um porco, ou uma galinha, deve valer menos do que a de Cecil? A loucura humana faz-nos crer que há espécies que merecem compaixão e outras que devem ser exterminadas pelos mesmos motivos que levaram ao abate do leão: a satisfação de um prazer. Se do caçador é o prazer da aventura, da caçada, dos perigos envolvidos, o mesmo passa com os seres humanos carnívoros, que aceitam ter em sua mesa um animal morto pelo simples prazer gustativo.

Não me parece normal que uma pessoa que diz amar os animais, preservar o meio ambiente, que milita pelo fim das sacolas plásticas nos supermercados, não pare para pensar que aquilo que come já foi um ser que deveria ter os mesmos direitos atribuídos a Cecil. Mas a nossa sociedade foi programada para que não associemos o churrasco-nosso-de-cada-domingo a um ser que pouco tempo antes estava vivo e tinha sentimentos como nós, de dor, de medo, de frustração, de revolta.

E o pior é que ideias como a que exponho agora são vistas, muitas vezes, como extravagantes, não sustentáveis, utópicas. A falácia da cadeia alimentar, da necessidade da proteína animal ou do cálcio lácteo, apesar de não subsistirem a qualquer discussão minimamente séria, tem força de verdade absoluta. Alguns acreditam por ignorância, outros por conveniência.

Te convido, então, para refletir a respeito do assunto. Pesquise, assista os vídeos, leia os textos que te farão formar uma opinião mais embasada a respeito daquilo que sofrem nossos irmãos não humanos, e o que significa para eles nascer neste planeta, condenados desde a concepção a uma vida de sofrimentos e a uma morte indigna.

Lamentemos pela morte de Cecil e pelas inúmeras injustiças provocadas aos de nossa espécie, mas reflitamos sobre a situação daqueles que morrem, aos milhões, somente para satisfazer uma necessidade psicológica, imposta por uma indústria que não está nem aí pra você, ou pra Cecil, ou pra ninguém.

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