No dia em que ocorreu o tão falado acidente no Rodoanel, em
São Paulo, envolvendo um caminhão que levava 110 porcos para um frigorífico,
pensei em escrever minhas impressões a respeito do ocorrido. No entanto, ao
perceber o tamanho da repercussão, preferi não encher ainda mais a internet com
mais do mesmo. Passados alguns dias, mudei de opinião, embora ainda corra o
risco de parecer repetitivo e, pior, atrasado. Não tem problema.
O que me fez decidir por escrever foi apresentar um pequeno
contraponto acerca do que dizem algumas pessoas, especialmente em comentários
de sites de notícias, ao analisar de maneira rasa e irrefletida o que aconteceu
anteontem.
Não vou me estender no tema do genocídio em curso em nosso
planeta, que vitima bilhões de animais não humanos em quase todos os países do
mundo. Não vou também falar sobre a desnecessidade do consumo da carne, uma vez
que para esses assuntos necessitaria de uma quantidade muito maior de linhas, o
que desfiguraria meus modestos objetivos. Atenho-me, portanto, a analisar
criticamente os fatos.
Bem, às 03 horas e 40 minutos do último dia 25 de agosto, um
caminhão tombou no trecho oeste do Rodoanel em Barueri/SP, próximo à saída para
a Rodovia Castello Branco. Proveniente de Uberlândia/MG, transportava pouco
mais de uma centena de porcos, com destino à cidade de Carapicuíba, no interior
de São Paulo, mais precisamente a um frigorífico matadouro onde os
porcos seriam mortos.
Às 10 horas e 40 minutos, isto é, 7 horas após o acidente,
iniciou-se a retirada dos animais do caminhão. Dentre outras maneiras
utilizadas para retirar a “carga”, alguns porcos eram puxados por tratores, através de cordas amarradas em seus pescoços. Muitos deles, durante esse processo, perdiam
as patas, arrancadas por pedaços de ferro. O destino era outro caminhão, que
iria retomar o transporte para o frigorífico.
Nesse meio tempo, grupos de “ativistas” – termo que a
imprensa adora utilizar – chegaram ao local e faziam o que era possível. Alguns
veterinários inclusive, na impossibilidade de retirar os porcos da carreta,
aplicavam injeções de analgésicos e morfina, para aliviar a dor. A imprensa deu
todo o destaque para o ocorrido, lamentando os quilômetros de congestionamento
causado pelo acidente. Somente após intensa mobilização nas redes sociais,
passou a falar da condição dos animais em sofrimento.
Após horas de trabalho, algumas dezenas de animais foram
levados a um santuário. Alguns morreram após chegar lá, pois não resistiram aos
ferimentos. Outros, lamentavelmente, tiveram que ser executados, para alívio de
seu sofrimento, já que não havia chances de se recuperarem.
Esse acontecimento provoca, em mim, reações diferentes e
contraditórias. Se por um lado me entristeço por fazer parte de uma espécie que
age como se fosse proprietária de todas as demais formas de vida, por outro
alegro-me por observar que há gente que merece ser chamada assim, que se
preocupa com outras criaturas, que se sensibiliza por sua dor e por sua angústia.
Mas voltando aos motivos que me fizeram escrever, é curioso
ler alguns comentários a respeito de tudo o que acabo de relatar. Li em algum
lugar uma pessoa dizendo que era um absurdo toda essa repercussão por causa de “meia
dúzia” de porcos. Que muito pior foi o transtorno causado pelo engarrafamento.
Outro dizia que os porcos tinham que ser mortos para que os mendigos fossem alimentados. Um terceiro destilava ódio àqueles que se pronunciavam a favor
de um tratamento digno àqueles animais, perguntando se aquelas pessoas faziam
algum trabalho em favor dos pobres de São Paulo.
Em primeiro lugar, não tenho aqui a intenção de transformar
essa discussão em uma cruzada do bem contra o mal. Não poderia haver uma
postura mais equivocada. Sob meu ponto de vista, as pessoas que não se
sensibilizam com um acontecimento com este simplesmente agem assim por não
terem condições de agir diferentemente. Aquilo simplesmente não lhes toca, e
isso quase sempre é consequência da educação que todos recebemos, que sempre tratou o
animal como uma coisa, não como um ser.
Deixo claro que acredito que qualquer atitude feita em
benefício de quem quer que seja, humano ou não, é digna de aplausos. Diga-se de
passagem, uma pessoa que é capaz de agir em prol de um animal, igualmente ajudará
um ser humano, caso necessário. O que não dá é pra alguém, além de não se
envolver com absolutamente nada, ainda quer diminuir a importância de qualquer
desses grupos, independente de seus objetivos.
Não acredito que o que defendo – o fim do maior genocídio já visto em nosso planeta – seja desprovido
de razão, que não pode nem jamais será colocada
em prática. Considero-me uma pessoa medianamente inteligente ao ponto de poder
observar que o animal não humano, assim como nós, sente fome, sede, calor,
frio, medo, ansiedade e, adivinhem, DOR. E por isso julgo que se alguém ainda
não refletiu a respeito dos males que o consumo de carne nos provoca, tanto
individualmente quanto em nível planetário, que ao menos reflita sobre o
sofrimento daqueles que são colocados na condições daqueles animais, no
fatídico 25 de agosto.
O que proponho é uma reflexão acerca do papel do ser humano
no mundo. O que você está fazendo da sua vida? Quais os sentimentos que vem
nutrindo? Eu poderia apostar que a maioria das pessoas – exceção feita a alguns
poucos, citados acima - se compadece com o sofrimento daqueles seres. O que
falta a essas pessoas, porém, é uma reflexão a respeito dos milhões de outros
porcos, vacas, galinhas e muitos outros, que são transportados todos os dias em
direção aos matadouros somente para satisfazerem um prazer gustativo tão efêmero,
sobre nossas mesas ou ao redor das nossas piscinas. Este planeta, para tais seres, é um gigantesco campo de concentração, desde que nascem até sua morte.
Não quero te ofender, mas se você come carne, é um defunto o
que você mastiga. É um pedaço de matéria orgânica em putrefação que você engole.
E por mais que você o tempere ou o enfeite, nada vai mudar a sua origem
violenta, degradante e indigna. Infelizmente, você é o responsável pela maior
indústria de mortes deste mundo.
A humanidade está acumulando um karma coletivo enorme. Esses
rios de sangue que correm sobre nossas mesas estão cobrando o seu preço. Secas,
inundações, fome, doenças, mortes, tudo isso que está aí, e que as grandes
empresas buscam esconder, é a fatura sendo cobrada.
Eu sei que você é uma pessoa boa, honesta, decente e piedosa. Mas talvez
te falte informação. Busque saber quais são as condições em que nossos irmãos
planetários são mantidos. Eu tenho certeza que você não vai querer mais
participar dessa carnificina. E a boa notícia é que existe um universo de
alternativas no mundo vegetal. Todos podemos nos alimentar sem o consumo da
energia da crueldade, que vem na embalagem a vácuo junto com os nervos, veias,
sangue e órgãos.
Eu te peço, por favor, que não me condene, mas eu preciso
tentar abrir seus olhos.
E faço isso porque acredito em você!
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