quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Ushuaia, o fim do mundo

O nosso próximo destino era Ushuaia, que tem como característica principal a sua localização, no extremo sul da América do Sul, e quer dizer "baía profunda", no idioma dos yagans. Bem, é claro que todos que vão até lá estão interessados nos passeios junto aos pinguins, ao trem do fim do mundo, além, é claro, de colocar no currículo que uma passadinha em latitudes tão extremas. Mas a verdade é que a região tem histórias e características muito bacanas.

Pra começar, é interessante notar que a Tierra del Fuego, Província cuja capital é Ushuaia, é um território argentino separado do resto do país pelo Estreito de Magalhães, que é todo de propriedade chilena. No extremo sul, a propósito, há diversas questões de domínio de terras envolvendo os dois países, e os ânimos - pelo menos por parte dos argentinos com quem conversamos, não é nada bom entre os habitantes dos dois lados da fronteira. Os argentinos têm uma bronca especial dos chilenos porque eles permitiram, durante a Guerra das Malvinas, que os ingleses usassem bases chilenas para a sua aviação. Até hoje os hermanos não perdoam essa atitude.

Outro lance histórico triste foi a existência de uma penitenciária, para onde vinham os criminosos mais indesejáveis do país. Junto com o caráter punitivo e segregador (eles queriam os caras bem longe), havia também a necessidade de povoar a região, e os presos foram responsáveis por algumas construções importantes, inclusive a própria prisão. Imagina o frio que não passaram.

O voo de El Calafate para Ushuaia é um pouco demorado, mas chegamos durante o dia no Aeroporto de Ushuaia. Ainda na van que nos levou ao hotel, foi nos fornecida uma folhinha com a programação dos dias seguintes.



A quantidade de passeios programados era maior do que tivemos em Calafate, mas o dia de nossa chegada era livre, de modo que tínhamos que aproveitar para conhecer um pouco a cidade.


Tudo em Ushuaia é relacionado ao "fim do mundo". Lojas, folders, placas, enfim, é o que atrai os turistas para aquelas bandas. E tudo é muito bonito! Chegamos com muita neve, o que causou certo espanto a todos, porque já não era época para isso. E, de fato, foi o único dia em que nevou, durante o curto período em que estivemos lá. Sinal de sorte!



Chegamos ao Hotel Albratros, que fica bem pertinho do Canal de Beagle. O hotel também foi providenciado pela agência de viagens, e não deixou a desejar. Largamos as coisas no hotel, tomamos um banho e saímos para explorar a cidadezinha. Demos uma volta e começamos a procurar algum lugar para comer. E fomos muito felizes na escolha, no Restaurante Casimiro Biguá, um baita restaurante, principalmente para quem gosta de uma carne bem preparada, acompanhada de um bom vinho. Essa foi a refeição mais cara que fizemos durante toda a viagem. Nos custou cerca de oitocentos Pesos.







No dia seguinte, pela manhã, era a hora de um pequeno city tour, por uma área específica da cidade, de onde pudemos tirar fotos bem de frente para o pequeno espaço onde Ushuaia fica situada, entre os Andes e o Canal de Beagle. Depois disso partimos para visitar os Lagos Escondido e Fagnano, e aquilo que achávamos que não prometia muito demonstrou-se um espetáculo da natureza. Tudo muito bem organizado, dentro de um parque, uma beleza.








No caminho para os Lagos, paramos em um mirante, de onde pudemos observar a natureza em seu estado bruto: árvores, montanhas e muita neve. Aproveitamos também para comprar algumas lembranças de um senhor que vende artesanatos. Ele disse ser da Província de Salta, que foi nosso destino após a passagem pela Patagônia. E lá estava Maria, uma bela cadelinha com quem Janaína logo fez amizade.




Em seguida, tivemos mais uma parada em um tipo de lanchonete no meio do nada. Neste local se pode alugar trenós puxados por cães, para quem gosta desse tipo de aventura. O local destaca-se pela realização de uma importante prova internacional de esqui nos anos 80. Há fotos da época nas paredes.








Passamos ainda pelo Paso Garibaldi, importante acidente geográfico da cordilheira andina.



Como última parada antes dos lagos, paramos em um restaurante chamado "Vila Marina", outro que está localizado entre nada e coisa alguma, e onde almoçaríamos algumas horas mais tarde. A parada foi para que indicássemos o que gostaríamos de comer, para que o pessoal do restaurante preparasse a comida. A especialidade lá é carneiro, que por sinal é delicioso. Janaína comeu truta, que também estava muito saborosa.







A visita aos Lagos foi muito bacana, apesar do frio que fazia. É uma oportunidade única de sentir de perto a força da natureza em um ambiente completamente diferente do nosso, brasileiro. E o que me impressionou foi o cuidado com que todos os moradores ou pessoal ligado ao turismo têm com o meio ambiente da região. Eles a tratam como um tesouro, até porque dependem dela para sobreviver, pois Ushuaia, além de ser uma zona franca, com impostos diferenciados para quem mora e produz lá, depende bastante do turismo.





Na volta, já era hora de comer, e paramos no já conhecido Vila Marina para saborear os pratos que havíamos escolhido na ida. Não éramos os únicos brasileiros no restaurante. Havia uma família de paulistas.





Ao chegar de volta à cidade, aproveitamos para percorrer algumas ruas onde não havíamos estado até então.












Para o jantar, fomos ao Restaurante "Tia Elvira", Janaína comeu Centollas, que são um crustáceo típico da região. Eu preferi um caldo que não me lembro muito bem. A escolha acertada foi a minha, já que a Centolla não caiu muito bem. Não quisemos nem olhar mais para o bicho durante toda a viagem.








No dia seguinte, pela manhã, tínhamos programada a visita ao Parque Nacional Tierra del Fuego, um lugar belíssimo onde pudemos ver bastante coisa do relevo e da flora da região. O parque é muito bem organizado e cuidado, ao contrário de muitos parques que temos em nosso país, infelizmente.














Dentro do parque, há um local onde se pode comprar um lanche e visitar um museu da vida da região, onde há fotos interessantíssimas dos povos que ali habitavam. Subindo em uma espécie de mirante, é possível também ter uma vista de outro ângulo do parque.









Como ponto alto do passeio, chegamos à Bahia Lapataia, que é o fim da Ruta 3, uma importante rodovia argentina. Essa bahia é importante tanto pelo seu aspecto geográfico quanto pela intensa disputa que havia em torno da região entre argentinos e chilenos.















Hora de voltar para Ushuaia, pois à tarde tínhamos o esperado passeio pelo Canal de Beagle. Infelizmente, na época em que fomos não havia ainda pinguins, mas pudemos ver outros animais interessantes, como lobos e leões marinhos. A saída da cidade tem uma vista privilegiada de toda a região. Recomendo que aproveitem ao máximo do lado de fora da cabine do barco, apesar do frio cortante. A primeira parada foi em uma ilha, para observação da flora local. Confesso que achamos sem graça essa primeira parada. Mas o visual, no geral, é grandioso.























Chegamos, enfim ao local dos lobos marinhos. São criaturas muito grandes, com um cheiro muito forte e que vivem entre mergulhos e dormidas nas rochas do canal. Mais à frente, pudemos observar, bem de perto o Faro del Fin del Mundo, que assim é chamado, apesar de existir outro ainda mais ao sul, onde não estivemos. O legal aí é que o barco chega bem perto das ilhas e dá pra tirar muitas fotos legais. Dentro do barco há souvenirs e lanche à venda. Não compramos nem uma coisa nem outra, mas está lá para quem quiser.











No nosso último dia em Ushuaia, não tínhamos nada programado, somente o transfer para o aeroporto, à tardinha. O inconveniente foi ter que deixar o quarto ao meio-dia, mas isso é inevitável em viagens compradas por companhias, nas quais temos que nos adaptar aos detalhes. Aproveitamos para ir ao Museu do Presídio, já que muitas pessoas falaram sobre como é bacana a sua história. E de fato constatamos que o museu é um lugar que vale a pena ir. Há várias alas, sendo a principal composta pelas celas de um pavilhão do presídio, com peças e informações históricas. Dá pra ter uma ideia de como era a vida naquele lugar, no século passado.











Existe outra ala, porém, onde as coisas estão mais ou menos como eram na época, e sem calefação. Além do frio que se sente ali, há um quê de sinistro no ar. Janaína quis logo ir embora. Mas valeu a visita.






Saímos do presídio e fomos almoçar direto. Antes, porém, passamos por um tipo de greve que os funcionários da prefeitura estavam fazendo. Não é só no Brasil não, viu!





Hora da partida. Pegamos o transfer no hotel e chegamos ao aeroporto para retornar a Buenos Aires. O detalhe é que importante guardar alguns pesos para o retorno, já que há uma taxa de embarque que se paga em dinheiro, antes do embarque.




Próxima parada: Salta e Jujuy, no norte argentino. Depois de ver tantas maravilhas patagônicas, estávamos ansiosos por vislumbrar uma cultura e uma paisagem completamente diferentes. Mas isso fica para outro post.


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